sexta-feira, 28 de maio de 2010

Se, ao final desta existência,
alguma ansiedade me restar
e conseguir me perturbar;
se eu me debater aflito
no conflito, na discórdia...

Se ainda ocultar verdades
para ocultar-me,
para ofuscar-me com fantasias por mim criadas...

Se restar abatimento e revolta
pelo que não consegui
possuir, fazer, dizer e mesmo ser...

Se eu retiver um pouco mais
do pouco que é necessário
e persistir indiferente ao grande pranto do mundo...

Se algum ressentimento,
algum ferimento
impedir-me do imenso alívio
que é o irrestritamente perdoar,
e, mais ainda,
se ainda não souber sinceramente orar
por quem me agrediu e injustiçou...

Se continuar a mediocremente
denunciar o cisco no olho do outro
sem conseguir vencer a treva e a trave
em meu próprio...

Se seguir protestando
reclamando, contestando,
exigindo que o mundo mude
sem qualquer esforço para mudar eu...

Se, indigente da incondicional alegria interior,
em queixas, ais, e lamúrias,
persistir a buscar consolo, conforto, simpatia
para a minha ainda imperiosa angústia...

Se, ainda incapaz
para a beatitude das almas santas,
precisar dos prazeres medíocres que o mundo vende...

Se insistir ainda que o mundo silencie
para que possa embeber-me de silêncio,
sem saber realizá-lo em mim...

Se minha fortaleza e segurança
São ainda construídas com os materiais
grosseiros e frágeis
que o mundo empresta,
e eu neles ainda acredito...

Se, imprudente e cegamente,
continuar desejando
adquirir,
multiplicar,
e reter
valores, coisas, pessoas, posições, ideologias,
na ânsia de ser feliz...

Se, ainda presa do grande embuste,
insistir e persistir iludido
com a importância que me dou...

Se, ao fim de meus dias,
continuar
sem escutar, sem entender, sem atender,
sem realizar o Cristo, que,
dentro de mim,
Eu sou,
terei me perdido na multidão abortada
dos perdulários dos divinos talentos,
os talentos que a Vida
a todos confia,
e serei um fraco a mais,
um traidor da própria vida,
da Vida que investe em mim,
que de mim espera
e que se vê frustrada
diante de meu fim.

Se tudo isto acontecer
terei parasitado a vida
e inutilmente ocupado
o tempo
e o espaço
de Deus.
terei meramente sido vencido
pelo fim,
sem ter atingido a Meta.

Extraído do livro Canção Universal in http://www.yoga.pro.br/artigos.php?cod=525&secao=3032

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